quinta-feira, 1 de maio de 2014

Num sábado do ano de 1996, cujo dia não me recordo, na condição de funcionário da Caixa Econômica Federal, no Hotel Carimã, em Foz do Iguaçu, juntamente com uns 500 colegas da empresa, passei 8 horas ouvindo o Professor Pedro Mandelli, à época consultor da Fundação Don Cabral, explicar como era a Caixa e como deveria ficar a partir do processo de reestruturação em curso. Da mesma forma, ele disse como se comportavam, em média, os funcionários da Caixa e como deveriam se comportar a partir de então. Ele disse muitas coisas que, à época, para mim foram novidades. Dentre elas, vou destacar a frase usada para descrever um trabalhador. Para o Prof. Pedro Mandelli, “trabalhador é aquele que trabalha e sente dor”. Contrariamente, “trabalhazer é aquele que trabalha e sente prazer”.

Resumi a fala do Professor Pedro Mandelli em sete páginas digitadas e li por inúmeras vezes. Toda vez que lia, relembrava suas palavras, seus gestos, e tentava entender o que efetivamente aquilo tudo significava. Por fim, decidi aderir ao Plano de Demissão Voluntária e saí da Caixa.

E desde então, venho questionando qual é o papel de uma empresa e qual é o papel dos seus trabalhadores na construção de uma sociedade mais humana e mais justa. Ou seja, como transformar o trabalhador em um “trabalhazer”. E hoje, dia em que se comemora o Dia do Trabalhador, cabe uma reflexão um pouco maior. O que o trabalhador brasileiro pode fazer para que o seu trabalho seja fator capaz de transformar sua vida, de seus familiares e da comunidade onde ele está inserido? Será que dá para fazer mais do que já está fazendo?

Vamos começar analisando pelo lado financeiro. Para mim, a empresa dar ao trabalhador um tratamento respeitoso em todos os sentidos, incluindo as questões de relacionamento e de respeito às leis trabalhistas não é reconhecimento, é simples obrigação. Reconhecimento se dá em dinheiro. Agora, para que o trabalhador faça por merecer reconhecimento em dinheiro, o que tem sido feito?

Nos últimos anos, no Brasil, esse reconhecimento tem sido feito de cinco formas, basicamente. São elas:

  • 1º aumento do piso salarial da categoria profissional, superior ao percentual da inflação do período, por conta de negociações feitas entre sindicados patronais e sindicatos de trabalhadores tendo como base o reajuste do salário mínimo que foi superior à inflação; 

  • 2º troca de emprego, em curtos espaços de tempo, por conseqüência do chamado “apagão de mão-de-obra” onde os ganhos de salário nas trocas de empresas, muitas vezes existem, porém são pequenos; 

  • 3º Movimentos grevistas onde, utilizando da pressão sobre a parte patronal, são obtidos reajustes superiores à inflação; 

  • 4º Pressão sobre a empresa por reajustes maiores sob ameaça de troca de emprego, também por conta do chamado “apagão de mão-de-obra”; 

  • 5º Livre negociação entre empresa e empregados por conta da obtenção de aumento da produtividade. 

Agora cabe uma pergunta: qual dessas cinco formas tem sustentabilidade e é capaz de ajudar a empresa, o trabalhador e a economia como um todo no curto, no médio e no longo prazo?

Não preciso ser muito incisivo na resposta para que o leitor saiba que é somente a quinta forma. É somente o aumento da produtividade que possibilita transformar o trabalhador em um “trabalhazer”. Agora, cabe a ressalva: o aumento da produtividade tem que, necessariamente, passar pelo respeito às leis do trabalho e à dignidade do trabalhador. Como disse antes, isso não é reconhecimento, isso é obrigação da empresa.

E como isso é possível? Penso que esse é o ponto inicial de nossa reflexão: o que o trabalhador pode fazer para aumentar a sua produtividade, melhorar o seu ganho e se tornar um profissional melhor e mais produtivo.

Em minha opinião, há várias possibilidades. Vou destacar algumas:

  • 1º O trabalhador brasileiro precisa recuperar o apreço por fazer bem feito. E fazer bem feito é fazer certo da primeira vez. Consertar dá bem mais trabalho do que fazer de novo e o produto ou o serviço nunca terá a mesma qualidade de algo bem feito da primeira vez. Ou seja, fazer como estivesse fazendo para dar de presente à pessoa que mais preza ou ama; 

  • 2º Encarar o trabalho como algo capaz de dar ao ser humano a verdadeira cidadania. O maior reconhecimento de um ser humano é a referência ao que ele faz ou ao que ele é; 

  • 3º Criar uma visão crítica sobre o que está fazendo, porque está fazendo, como e quando está fazendo; 

  • 4º Abrir um diálogo com a direção da empresa sobre a criação de um ambiente de inovação dos produtos e dos processos. Por mais resistente que a empresa ou os encarregados, gerentes ou diretores sejam, um dia eles entenderão que a melhoria dos processos e dos produtos ajuda a todos; 

  • 5º Lembrar que o trabalhador, contrariamente ao que muitos pensam, não trabalha somente para a empresa que paga seus salários, mas, sim, trabalha para si e para sua família. É do fruto do seu trabalho, independente de onde ele ocorre, que vem a sobrevivência, o conforto e o bem estar de si e de seus familiares; 

  • 6º Lembrar que a especialização, que leva ao aumento da produtividade e da qualidade e é capaz de garantir maiores ganhos no curto, no médio e no longo prazo, é fruto de estudos e de dedicação. Não há, no mundo moderno, como parar de estudar. Não, necessariamente, precisa ser no banco da escola. Com a informática e a internet é possível estudar em qualquer lugar e a qualquer momento; 

  • 7º Exigir das empresas que em todas exista uma sala de aula. Por improvisada que seja. Basta o espaço, algumas cadeiras e um quadro negro. Toda vez que se tem a oportunidade de receber uma visita – de um cliente, fornecedor, autoridade ou especialista em algo - dividir seu conhecimento com todos. E quando não tem serviço para todos, os mais experientes repassam, no ambiente dessa sala de aula, o conhecimento e a experiência para os mais jovens. 

Isso aproximará muito mais o ser humano do “trabalhazer”, como disse o Prof. Pedro Mandelli, do que do trabalhador. Pense nisso e parabéns para todos nós trabalhadores e “trabalhazeres”.

Alfredo Fonceca Peris

São os mais sinceros votos da equipe da Peris Consultoria Empresarial Ltda.

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